Schunke (Estudiantes), Donatti (que passou pelo Flamengo), Noguera (Estudiantes, mas vinculado ao Santos) e Burdisso (atualmente no Torino-ITA). O primeiro esteve próximo de acerto. Mas foi Carli o zagueiro contratado pelo Botafogo para ser titular na disputa da Série A de 2016. O argentino agradou, se consolidou, virou capitão, herói e, nesta quarta-feira, contra o Nacional-PAR, completa 100 jogos pelo Glorioso.
– Representa a consolidação de um trabalho e a concretização de um sonho. Sempre fui admirador do futebol brasileiro e tinha o desejo de jogar em uma grande equipe daqui. O Botafogo me deu essa oportunidade e sou muito grato. Fico satisfeito com o que vem acontecendo. Tivemos uma conquista importante e faço parte de um grande grupo. Estou realizado – revela o zagueiro ao LANCE!.
E olha que ele já havia entrado em acordo para ser liberado do contrato vigente em troca do não pagamento de salários atrasados. E olha que o desempenho nos primeiros treinamentos passou longe de empolgar.
– Mas era para ser – conta uma pessoa próxima.
Era para ser, ao menos, a companhia experiente ao lado do jovem Emerson (hoje Emerson Santos, cedido pelo Palmeiras ao Internacional). Mas se tornou titular absoluto a partir do segundo semestre daquele 2016 e, um pouco antes, a liderança já começou a transparecer.
A lesão, as cirurgias e o longo afastamento de Jefferson chamaram mais ainda a atenção de Carli para a importância do goleiro. Tanto que, na partida do retorno, quando o xerife já era o dono da braçadeira, o então treinador, Jair Ventura, queria manter a capitania com o argentino, mas o goleiro defendeu o pênalti do Atlético-MG com a faixa no braço. Era a homenagem do zagueiro a uma de suas referências no clube. No jogo seguinte, contra o Fluminense, é que a faixa voltou ao estrangeiro.
Hoje com 31 anos, o grande ano da carreira do argentino foi exatamente 2017, quando disputou a Copa Libertadores pela primeira vez. Apesar dos frequentes cartões, a qualidade no jogo aéreo, a maneira imponente em campo e os esporádicos gols conquistaram a torcida. No clube, porém, ele já havia conquistado até o ex-gerente de futebol, Antonio Lopes, com quem manteve relação mesmo após a saída do Delegado do Glorioso.
– É um jogador que, mesmo sendo um estrangeiro, se identificou muito com o Botafogo. Um cara excepcional, que se deu bem com tudo quanto foi jogador do grupo. E ele sempre conversava muito comigo, falava sobre adaptação, trabalho. Além de ter sido meu jogador, se tornou amigo, pelo comportamento, pela figura humana dele – comenta Lopes, também em contato ao LANCE!, ao recordar o primeiro telefonema do argentino.
Este 2018 era o último ano do antigo contrato de Carli com o Alvinegro – não foi o primeiro contrato porque ele já havia firmado um novo vínculo durante 2016, após interesse do rival Flamengo -. E após problemas físicos, ele recuperou a titularidade, depois comprovou importância na reta final do Campeonato Carioca e renovou até 2020.
Mas quase que o torcedor ficou sem o camisa 3. Um clube dos Estados Unidos e outro da Turquia desejavam o zagueiro, que ficaria livre de contrato em dezembro. Entretanto, o negócio não avançou nestes termos e o Botafogo será a casa de Carli por mais um ano e meio.
A tal liderança lhe fez, ao jeito dele, defender, por exemplo, a permanência de determinados personagens no clube. Foi elogiado pelo comportamento quando foi posto na reserva por Alberto Valentim, mas o ex-treinador cedeu à pressão da torcida e recolocou o argentino no time: o resultado foi vitória sobre o maior rival, na semifinal estadual, e gol nos acréscimos do segundo jogo da final, diante do Vasco.
O botafoguense nunca esquecerá. Mas o pai dele, Hugo Carli, já havia avisado: “Você vai fazer o gol”. Na comemoração, aquele caminhar imitava Valentín Carli, avô do jogador e que dá nome ao neto, figura frequente nos treinos do Glorioso. Passos lentos, com percalços, mas que parecem ter como destino a idolatria no clube.
– Eu trabalho muito e me cuido bastante. Essa questão de ídolo eu deixo para o torcedor. Sinceramente, eu penso em realizar o meu trabalho da melhor forma possível. Esse grupo se esforça a cada dia para dar a melhor resposta para o nosso torcedor. Com conquistas e entrega no trabalho, as coisas acabam acontecendo naturalmente – entende o zagueiro.
O centésimo jogo dele pelo Alvinegro ocorre num momento de grande turbulência. Treinador ameaçado, diretoria muito questionada e um mata-mata internacional pela frente. O papel de uma liderança nesse momento?
– Assim como outros jogadores experientes, sempre converso com os mais novos para, juntos, sairmos desse momento delicado. Esse grupo sabe do que é capaz e vamos dar a volta por cima o quanto antes.
Conteúdo de Lancenet