Para ter Gestão profissional é preciso ser Clube Empresa, LTDA. ou S.A.?

Não. Para ter Gestão Profissional, não é necessário o BFR deixar de ser um Clube Social e Esportivo e uma entidade privada sem fins lucrativos. Não é requerido mudar sua forma jurídica.

Para ter uma Gestão profissional, basta uma pequena mudança Estatutária, extinguindo o cargos amadores nomeados para o Executivo, permanecendo como amadores apenas os eleitos (Presidente e Vice Geral).

Neste caso, só teríamos profissionais respondendo ao Presidente. Nada mais de VP’s, Diretores e Assessores amadores.

O Presidente e o Vice Geral, em uma visão mais moderna, mesmo eleitos, poderiam conceder Dedicação Integral e, por conseguinte, seriam remunerados, de modo a profissionalizar TODO o Executivo. Isto não é, todavia, obrigatório, podendo ser suprimido para aprovar mais rapidamente a mudança de MODELO.

Então, para que termos um empresa, LTDA. ou S.A., se isso não é obrigatório para adotarmos uma Gestão Profissional?

Porque, após várias péssimas Gestões sucessivas, o estado de insolvência (termo utilizado para entidades sem fins lucrativos quando em situação similar à falência) do Botafogo é o maior dentre os Clubes Sociais Esportivos do país.

Isto (estado de insolvência) quer dizer que a adoção de melhores práticas de Governança e de uma Gestão genuinamente profissional não mais resolvem os gigantescos problemas de Botafogo.

Reduziriam as despesas, trariam maiores receitas, melhorariam a imagem, todavia, em curto e médio prazo, não promoveriam o turn around que o clube precisa para competir em alto nível e disputar títulos, cumprindo sua Missão institucional.

Não há outra solução senão a entrada de INVESTIDORES. E, para isso, é necessário separar o Futebol do Clube Social e dos demais Esportes Olímpicos, por meio de uma nova personalidade jurídica, seja LTDA. ou S.A., sendo a CIA. Botafogo ou outro CNPJ.

Para termos Gestão Profissional, independente do Modelo a ser adotado para separar Futebol do Clube Social, que mudanças poderiam ser feitas, além das Estatutárias, citadas acima?

A estrutura que defendo e proponho é bem enxuta, resultado de um profundo Downsizing e uma grande reestruturação organizacional, com a extinção de Departamentos, Setores e Seções

Teríamos, assim, o Presidente e o Vice Geral eleitos e amadores (em um primeiro desenho) chefiando um Diretor Executivo e, abaixo deste, apenas 4 Gerências (Futebol, Marketing e Comercial, Centro de Serviços Compartilhados e Patrimônio).

Pela insolvência, os Esportes Olimpicos (inclusive o Remo), estariam em nivel de Coordenação e não Gerência, que seria submetida ao Diretor Executivo.

O Centro de Serviços Compartilhados englobaria o Administrativo, o Financeiro, o Jurídico e a Área de Desenvolvimento Humano (ou Gestão de Pessoas, o conhecido RH).

A Gerência de Futebol teria no seu escopo os Profissionais, a Base e o Futsal, com Coordenações para cada um destes segmentos.

Patrimônio seria responsável por rever o mix de ofertas e equipamentos das Sedes, cada qual com seu novo Business Plan, rediscutindo seus usos, envolvendo o Social e todos seus eventos também. Seria um conceito de captação e retenção de sócios e usuários, uso e frequência, ticket de permanência, de maneira a trazer mais receitas.

Estrutura enxuta e profissional. Remuneração fixa menor mais fee por resultado.

Entraríamos ainda com um bem desenhado Programa de Formação de Quadros, bem competitivo, para Estágio e Trainees. Mão de obra nova, motivada e sem vícios, para dar uma mexida na Cultura Organizacional

Esse é o Modelo de profissionalização que defendo, financeiramente viável e plenamente exequível, antes que venham com a falácia de sempre sobre $$$ (muleta clássica de quem defende o amadorismo).

Para ter Gestão profissional, a estrutura organizacional precisa ser diminuta, com poucos níveis hierárquicos, no sentido de ser financeiramente viável, já que, tradicionalmente, nossas Receitas Brutas anuais não chegam a R$ 200 milhões, sendo menor que de muitas empresas familiares.

Uma estrutura menor é, também, menos burocrática e mais ágil. Tem menos ruído na comunicação. E fica mais próxima da base de clientes e torcedores.

Por fim, qual o problema de termos amadores na Gestão direta?

Os problemas são muitos. São nomeações políticas e, usualmente, não meritórias. Os escolhidos são amigos ou colegas membros do grupo político eleito ou de grupos coligados.

Não raramente, há falta de expertise nas Áreas afins para as quais os amadores são nomeados. Quando há o mínimo de aderência, os nomes escolhidos não são expoentes e reconhecidos pelo mercado.

Outra grave entrave é concernente ao regime de dedicação. Não há dedicação eclusiva (DE) ou tempo integral (TI), em horário comercial. Os amadores costumam ir em dias e horarios aleatórios, normalmente pós trabalho, de modo assistemático.

Isso é péssimo para o fluxo de processos organizacionais, causando GAPs, retrabalhos, redundâncias, ruídos na comunicação, falta de precisão, atrasos e outros prejuízos à tomada de decisão.

Do ponto de vista de Governança, não funciona sequer em empresas públicas, cujos cargos principais vêm de indicações políticas e nomeações.

Nada é “mais caro” para um clube do que ter amadores que não trazem resultados. Não há maior desperdício. Não há pior decisão do que essa.

  • Ronaldo Chataignier é  Doutor em Gestão, mestre em Administração Pública, MBA em Administração  Esportiva, pós graduado em Planejamento e Finanças, especialista em Marketing e graduado em Administração de Empresas.